terça-feira, 20 de julho de 2010

O que queremos num parto?

Estou com 37 semanas e continuo querendo o parto normal.... espero que dê tudo certo...

Quero falar um pouco sobre quem somos nós e o que queremos para o parto e nascimento de nossos filhos...

Boa parte das mulheres que transita aqui por este site está superfocada em parir da forma que seja a mais saudável para elas e para seus bebês. Questão de saúde, segurança e filosofia de vida... É uma mulherada que se preocupa com o que come durante a gravidez, porque sabe que seu alimento vai para o bebê. Se preocupa com o que come depois, quando está amamentando, porque sabe que o bebê também recebe os mesmos nutrientes. Vão atrás de slings - aqueles xales interessantes em que se carrega bebês junto ao corpo, amamentação exclusiva e prolongada, comunicação não-violenta, educação para a paz e essa coisa toda.

É natural que para uma mulher que tenha essas preocupações todas, o parto seja fundamental, porque a forma como a gente recebe os nossos filhos no nascimento diz a eles "como o mundo é".

Se meu bebê é recebido com calma, com cada abraço da contração, com esforço e vitória, com um abraço imediato da mãe e as palavras afetuosas do pai, numa sala quentinha e escurinha, ele entende que o mundo é um lugar seguro e tranqüilo, que ele é amado e desejado. Mamãe é essa que me segurou assim que eu nasci, chorou e disse "bem-vindo, meu filho, nós conseguimos!!" Mamãe é essa que fica me olhando enquanto ainda estou todo melecado de vérnix e líqüidos do parto, e não me solta por motivo algum. Não preciso ainda respirar com força, pois meu cordão ainda pulsa. Não preciso abrir os olhos e chorar, todos sabem que eu estou bem só por estar corado no colo da minha mãe. Sim, está tudo bem, acho que vou confiar no mundo, vou confiar nas pessoas.

Ao contrário, se ele é arrancado de dentro do útero sem maiores avisos, enquanto está lá dormindo, fora de trabalho de parto, numa cesárea marcada porque "mamãe tá com pouco líqüido, bebê tem cordão enrolado, mamãe tem bacia feia", é levado para longe de sua mãe, esfregado, colocado sob holofotes, aspirado, carimbado, colocam em seus olhos uma substância cáustica e o levam para um berço aquecido onde ficará isolado (chorando ou não) por 6 horas - o que ele entende que é o mundo? O mundo é um lugar inóspito, que não foi feito para ele. E a mãe dele? Cadê? Ah, sim, deve ser essa senhora que agora me dá um banho estranho sob a torneira do berçário? Não, não, talvez seja essa outra que me dá uma mamadeira com água glicosada para eu parar de chorar? Ops.. não.. deve ser essa que me veste... Ou essa que me arrasta pelos corredores? Opa, será que é essa que me pegou no colo agora, mas mal consegue me segurar?

O parto é o primeiro grande evento na vida da criança e que será para ela um grande divisor de águas. Quando um bebê tem que passar por uma cesariana porque corre um VERDADEIRO risco de vida, ou porque de alguma forma houve um problema VERDADEIRO no parto, então tudo isso tem um sentido especial. Ele foi resgatado para não ter um problema grave ou até para não morrer. Ele foi tirado do útero porque de outra forma teria sido uma experiência muito pior para ele.

Mas como podemos saber o que é VERDADEIRO do que é MALANDRAGEM, num país onde 90% das mulheres de classe média passam por cesarianas? Como saber se o seu médico sabe diferenciar o risco dos outros motivadores pessoais? Fácil! Pergunte a ele qual é a taxa de partos normais entre suas clientes de consultório! Um médico que tem 80% de cesarianas está pouco se lixando para a forma como as crianças vêm ao mundo. Um médico que abraça, beija, te chama de meu benzinho, pergunta como você tem passado, não é necessariamente um bom obstetra, um bom parteiro. Um médico que tem um consultório chiquérrimo com heliponto, secretárias de silhueta alongada por saltos altos e coques na cabeça, ou que usa um sapato maravilhoso da Prada, não é necessariamente um bom obstetra, um bom parteiro. Aquele que tem o consultório cheio, onde você espera 3 horas para ser atendida, esse não é um bom obstetra, com certeza. Ele pode até lhe sorrir o mais cândido dos sorrisos, mas quando você virar as costas ele vai dizer "Ufa, uma a menos, quantas faltam, Lucilene?".

O bom obstetra a gente conhece pelas condutas. A gente sabe que ele desmarca 3 vezes as suas consultas porque estava atendendo a partos demorados. Na sala de espera você encontra mulheres com seus bebês que nasceram de parto normal, a imensa maioria. Difícil você encontrar na sala uma mulher que foi "tirar os pontos". E muitas outras pistas vão te dizer quem é ele de verdade...

Ainda que seu obstetra seja seu pai, seu amante, sua mãe ou sua irmã, de nada adianta se ele ou ela não te oferecer o que há de mais seguro e saudável para o parto e nascimento do seu filho. É atrás dessa segurança que todas nós aqui estamos.

(E depois do parto vem a segunda novela: os pediatras e a amamentação. Essa eu deixo para falar depois, ok?)

Artigos anteriores:
O que as Mulheres Querem?

Ana Cristina Duarte
Doula, Educadora Perinatal e futura parteira pela USP

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